Aqui são quatro da tarde e estou quietinho, na mesa da copa, escrevendo estas maltraçadas enquanto ali, na sala, o Nicolas recebe a visita de uma agente de saúde pública especializada em grávidas e pós-grávidas e seus nenens (uma midwife, que tem curso de três anos para exercer sua atividade). Desde que ele nasceu ela tem aparecido de dois em dois dias. Agora está sendo pesado e examinado. Em seguida, sem pressa, ela ouvirá as dúvidas da mãe, explicará o que for necessário e fará anotações no caderno que acompanha o nenem desde a maternidade. Depois dos dez primeiros dias, as visitas ficarão mais espaçadas.
Todo o acompanhamento da gravidez, o parto e agora o acompanhamento do recém-nascido é feito gratuitamente pelo governo britânico. Por ordem de Sua Majestade, provavelmente. E isso de vir alguém em casa (sim, sim, todas as casas, qualquer casa, onde quer que tenha um recém-nascido registrado no SUS daqui) dá enorme tranquilidade para as mães estreantes. Elas estão, como é fácil imaginar, repletas não só de leite, mas também (e talvez principalmente) de dúvidas. Ter alguém a quem perguntar sem ter que ir atrás, na rua, em algum posto de saúde lotado, é muito tranquilizador.
O Nicolas, a proposito, está cumprindo muito bem a meta estabelecida, de recuperar o peso do nascimento em até duas semanas. Provavelmente a alcançará antes disso.
Quando eu estava na maternidade esperando o Nicolas (na sala de espera, claro), vi uma cena que há muitos anos não se vê mais com facilidade no Brasil. Um pai sai da sala de parto, onde acompanhava a esposa e vem à sala de espera contar a novidade aos pais dela: "nasceu, é um menino!" Sim, aqui ainda é comum as gestações chegarem ao final sem que os pais saibam o sexo da criança.
Sim, sim, o governo inclui exames de ultrassom no acompanhamento gratuito da gravidez. Mas desde que alguém entrou com um processo de perdas e danos porque tinha sido informado que seria um menino e nasceu uma menina (ou vice-versa), o governo não informa mais o sexo. E nas clínicas particulares o exame é cercado de grades precauções e os pais são avisados que não é 100% garantido.
Minha mulher, que teve e criou três filhos em Florianópolis (com uma ajuda mínima deste que vos fala), participa entusiasmada da conversa com a midwife. No primeiro filho nosso pediatra particular, o Fernando Boing, até foi lá em casa uma vez. Mas o normal (pelo menos naquela época, final da década de 70) era a gente ir atrás. Quem podia colocava o nenem no carro (sem cinto, sem cadeirinha) e ia à clínica particular. Ou tentava resolver as principais dúvidas por telefone.
Bom, a midwife já foi. Nos próximos dias virá uma outra agente, para fazer a programação de vacinas e a transição desse atendimento intensivo dos primeiros dias, para o atendimento normal do sistema de saúde. E isso que ele nem é cidadão britânico. O fato de ter nascido aqui não lhe dá automaticamente a cidadania. Os pais precisam ser residentes permanentes por alguns anos (parece que cinco) e o Danilo e a Marta estão aqui há apenas três. Pra todos os efeitos, ainda que seu nascimento tenha registro oficial aqui, Nicolas é brasileiro.
E aí já começa o sofrimento: terá que ir a Londres, porque só lá tem consulado, para ser registrado e fazer passaporte. Será que enfrentrará sua primeira fila?
2 comentários:
Eu estou de boca aberta pela experiência que voces estão vivendo, pena que depois tenham que voltar a realidade. Eu queria saber de na Escócia, onde tudo é garantido pelo Estado é obrigatória carregar o neném em uma cadeirinha dentro do automóvel como nos obrigam aqui no Brasil? se o carro tem ari bag tem que usar cinto?
abs
Brito
Brito, tem um tipo especial de cadeirinha para cada idade. Bem igual aí. E dá multa muito pesada. E é só ver o que acontece com alguém que está sem cinto quando abrem os air bags, pra entender que não tem sentido ficar sem cinto. Ainda mais quando o carro tem essas bolhas trançadas com fio de aço. Cinto de segurança nos automóveis foi a maior invenção, depois da roda e do motor.
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