sexta-feira, 11 de março de 2011

Pronto pra outra

A viagem acabou e naturalmente extinguiu-se a razão de ser deste blog. Deixo este breve post como uma espécie de fecho e a partir de segunda-feira volto ao endereço tradicional, no De Olho na Capital, falando menos de mim e mais dos que lidam com o nosso dinheiro.

Pra encerrar, um pequeno album de retratos:
Rio Don, em Aberdeen, visto da sala da casa do Nicolas. Foto: Pedro Valente
Manezinhos em Londres, fotografando o parlamento e o big-ben. Foto: PV
Lúcia e eu com o Nicolas, razão da nossa estadia prolongada por lá. Foto: Marta Leite
Augusto, o neto mais velho, que fez um ano dia 28, em Brasília. Foto: André Valente
Augusto já tá quase andando. E o Nicolas tá aprendendo a sorrir.
Conflito familiar: Danilo, pai do Nicolas, é Figueirense. O Vô Paulinho (na foto) é Avaí...
 Foi uma boa experiência, cheia de novidades. Nunca tinha ficado tanto tempo no exterior (na verdade, fiquei no interior, numa cidade relativamente pequena, mais ou menos do tamanho de Florianópolis). E nunca tinha indo tão ao norte do mundo. Também nunca tinha passado Natal com neve. Nem caminhado tanto na rua em temperaturas tão baixas.

Agora fico torcendo para que os outros dois filhos que ainda moram no Brasil arranjem uma ocupação fora e se mudem logo, pra gente ter pretexto para viajar de novo... como se precisassemos, Lúcia e eu, de pretexto pra colocar o pé na estrada. Mas agora acho que ficaremos por aqui. Pelo menos durante os próximos meses. Até breve.

domingo, 27 de fevereiro de 2011

Ainda bem que sou baixinho

ALGUMAS OBSERVAÇÕES SOBRE A CLASSE TURÍSTICA DOS AVIÕES

Se tem um lugar em que os mais altos (e fortes, e bonitos) não levam qualquer vantagem e, ao contrário, são penalizados, é na classe turística dos aviões de longo curso. Os aviões crescem, mas o espaço entre as poltronas (melhor chamá-las de cadeiras, porque poltrona dá idéia de uma coisa confortável e bem acolchoada) diminui. Desconfio que mesmo a largura de cada banco venha se estreitando lentamente ao longo dos anos.

Minha filha, no ano passado, viajou de Nova Iorque à Europa num desses Airbus 380, com dois andares, o maior avião de passageiros atualmente em atividade. Os assentos da classe turística eram ainda mais apertados que os dos Airbus menores. Viajei neste final de semana e posso estar exagerando, mas a cadeira do pequeno Embraer 145 que nos conduziu de Aberdeen a Londres, nada ficava a dever à cadeira do majestoso boeing 777 que nos trouxe de lá até Guarulhos. Sei que os dois assentos têm enormes diferenças, mas a sensação que se tem é que o aperto é semelhante, apesar do 777 poder acomodar vários 145 dentro dele.

"TOUCH-SCREEN" ESSA INCOMPREENDIDA

De uns tempos para cá, a pretexto de oferecer diversão e distrair os apertados passageiros, as empresas aéreas oferecem telas de vídeo individuais, colocadas no espaldar da cadeira da frente. São acionadas pelo toque dos dedos na tela. O que é uma forma sutil de dizer que a tela tem que estar ao alcance das mãos. De um encosto ao outro, a distância é praticamente de um braço.

Outro problema dessas telas sensíveis ao toque, é que multidões não entendem que toque é só encostar ou passar os dedos. Acostumados a décadas de aparelhos com teclas, em que é preciso pressionar o dedo, até com certa força, o que se vê é o sujeito da cadeira da frente balançar a cabeça sempre que a pessoa atrás resolve mudar de canal.

Próximo de mim uma senhora, espremida entre dois outros passageiros, tentava se distrair jogando paciência. As cartas eram movidas com o toque dos dedos. Mas ela, acostumada com as teclas, batia na tela com a ponta de sua unha bem feita do indicador. Com força. Como se estivesse tocando piano num bar barulhento e precisasse fazer soar as cordas ao máximo. A pessoa sentada à frente parecia um guitarrista metaleiro, sacudindo a cabeleira para frente e para trás.

TADINHO DO GRANDÃO

A meu lado, coitados, viajaram dois jovens, provavelmente ingleses, bem mais altos que o meu modesto 1,70 m. Um deles tinha estrutura e estatura daqueles galalaus que remam nas competições universitárias do Reino Unido. Até me senti melhor acomodado quando vi a dificuldade que tinham em encontrar posições, durante as onze horas do vôo, para seus longos braços e pernas. Se fossem um casal, poderiam como Lúcia e eu fizemos, encostar um no outro, apoiar o travesseiro no ombro do parceiro, tentando enganar o fato de que a cadeira não reclina quase nada e que depois de certo tempo tem-se vontade de deitar no chão do corredor.

E olha que, previdente, economizei um dinheirinho para poder comprar um dos tais "assentos conforto". Sabe aquelas fileiras de assentos diante de saídas de emergência ou logo depois das "galley" (aqueles compartimentos onde o serviço de bordo é preparado)? Pois é, têm um pouco mais de espaço porque não têm, diante de si, outra fileira de cadeiras. A TAM cobra uma tarifa extra pelo uso daquelas cadeiras, porque sabe que, numa viagem longa, alguns centímetros a mais podem fazer muita diferença.

No caso de baixinhos como Lúcia e eu, esse espaço significa que podemos colocar a malinha de mão no chão e apoiar os pés, para poder ficar numa posição um pouco menos cansativa. No caso dos meus enormes vizinhos, o alívio parece ter sido pequeno. Tá certo que não precisaram ficar apoiando o queixo no joelho, como o pessoal grande das fileiras normais, mas permanece o fato de que as cadeiras reclinam miseravelmente e a largura impede movimentos de ajuste do corpanzil. Menos mal que jovem se recupera rapidamente de noites maldormidas.

O aglomerado, apertamento e promíscua proximidade (um avião como o 777-300 da TAM transporta 305 almas na classe econômica) faz com que a gente acabe criando uma intimidade instantânea compulsória com desconhecidos. Cheiros, ruídos e roçar e braços e pernas durante longas horas, podem levar o passageiro desavisado ao pânico total. Ou ao desespero. O grandão ao meu lado, mal acomodado, tentando se equilibrar num travesseiro minúsculo, pega no sono, apesar de tudo. A certa altura, nada impede que ele desabe sobre mim. E dependendo do peso do sono, babe e ronque na maciez da minha cuidadosamente cultivada barriga. Esse temor faz com que meu cochilo seja entremeado de espiadelas pra ver se o vizinho ainda estava nos seus limites.

"DARIA TUDO POR UMA CAMA!"

A TAM tem dois vôos de Guarulhos a Florianópolis, para conduzir os passageiros que chegam do exterior de manhã. Um às sete e meia da manhã, outro às três e meia da tarde. Nós chegamos às cinco e meia. Teoricamente, poderiamos pegar o avião das sete. Afinal, são duas horas. Mas, na prática, é impossível. Primeiro porque as malas levam séculos para chegar até a esteira. Depois, porque tem fila enorme para passar pelo crivo da Receita Federal (sempre parece que todos os vôos chegam no mesmo horário que o nosso).Com sorte (e sem passar na duty free), consegue-se sair uma hora e meia depois de aterrissar. Daí, ainda precisa contar com a boa vontade do pessoal do check-in de conexão. Ou seja, a partir das cinco da manhã, a turma vai mesmo pra Florianópolis no vôo das três e pouco.

O que fazer, se depois de uma noite maldormida de aperto, sufoco e sustos, ainda temos que ficar umas seis ou oito horas no aeroporto? Ahá! Agora todos seus problemas estão resolvidos. Guarulhos já tem um hotel da rede Fast Sleep. São pequenos quartos, quase casulos, com beliches, para um descanso de algumas horas. Banheiros limpos, bom chuveiro, toalhas, completam o cenário. Resultado: na hora de entrar no avião para Florianópolis, a gente já está limpo, descansado, quase refeito e até sorridente.

Alguns poderão dizer "é caro!" (R$ 150,00 por um período de cinco a oito horas). Caro é o tal de "assento conforto" da TAM. Que custa 50 dinheiros. Se o vôo estiver indo ou saindo da Europa, 50 euros. Se do Reino Unido, 50 libras. O que é uma sacanagem. A libra vale mais que o euro. O banho e o soninho numa cama horizontal depois de onze horas de apertamento, não tem preço.

Claro que quem tem milhas suficientes para voar de classe executiva, ou é funcionário graduado de empresas que pagam executiva, ou tem boquinha no governo brasileiro e vai de primeira classe, tem direito, após ao vôo, a banho e descanso nos "lounges" que as empresas mantém nos principais aeroportos. Mas a turma da turística, até agora, tinha que amargar a espera nos bancos dos aeroportos, curtindo o amarfanhado da travessia noturna.

"ISSO É UMA INJUSTIÇA!"

Essa história de "assento conforto" ainda gera muita angústia em quem não conhece as regras. O vôo para Florianópolis estava lotadaço. Só tinham, vagas, quatro ou cinco poltronas do tal "assento conforto" nas saídas de emergência. A gritaria foi grande, porque a turma não aceita que tenha que viajar entre dois gordos enquanto uma linda poltrona de corredor está vazia, ao lado do célebre e sempre interessante Tio Cesar. O aeromoço explica que ali custa mais caro, aí o passageiro tira dinheiro do bolso e quer pagar, mas o problema é que essa compra tem que ser feita no check in, não tem como fazer nem antes, nem depois. A criatura, bufando, encerra o show. Mas antes fuzila, com o olhar, todos aqueles idiotas que estão com as pernas esticadas.

Mal sabe ele que, nos vôos domésticos, metade dos tais "assentos conforto" das saídas de emergência não reclinam. É uma opção entre pagar a mais para esticar as pernas ou ficar com o joelho nas costas do outro, mas pelo menos reclinar a poltrona alguns graus (aposto que não chega a 10º).

Mas, no fim das contas, em menos de 30 horas passamos de um calorão de 13º para um forno a 30º. Trajeto que nossos antepassados levavam meses para cumprir. Em condições muito piores (isso quando não eram arrancados de suas casas, na África, e trazidos nos porões fétidos do vergonhoso comércio de gente que o Brasil custou a abdicar). E, o mais importante: as malas chegaram junto conosco. Todas elas, no mesmo vôo. E com todo o seu conteúdo intacto!

Para completar, só faltava amanhecer o domingo fresquinho, com vento sul. ;-)

quinta-feira, 24 de fevereiro de 2011

Acabou-se o que era doce

Avós corujas babam sobre Nicolas, o neto mais recente.

Com a chegada dos outros avós do Nicolas (Paulinho e Maria Marta, pais do Danilo) a Aberdeen pra ajudar a cuidar do neto, termina nosso turno de guarda. Lúcia e eu estamos fazendo as malas, depois de uma estadia de mais de dois meses por aqui. No último mês, aprendendo a conhecer essa figurinha que é o Nicolas.

Com o final da viagem, este blog começa também a ser desativado. Provavelmente, ao chegar ao Brasil, ainda colocarei mais alguma coisa das muitas que gostaria de ter contado e não tive tempo. Por exemplo: neste tempo em que fiquei aqui fui mais ao cinema do que nos últimos dez anos no Brasil. Queria comentar isso com vocês e tentar descobrir o por quê.

Também fiquei devendo mais fotos e vídeos do dia a dia do interior da Escócia (favor não confundir Escócia com Inglaterra, eles ficam chateados). E dependendo do que ocorrer, a volta talvez renda alguma historinha. Na vinda pra cá, uma nevasca fechou o aeroporto de Londres e fomos parar em Madri (quem não viu o começo do blog, pode dar uma navegada ali nos arquivos, na coluna da direita. Não tem muita coisa, é só de janeiro pra cá).

Então é isso. Quando chegar ao Brasil, depois de pegar um sol, tomar um banho de mar e descansar um pouco, voltaremos a conversar.

terça-feira, 22 de fevereiro de 2011

Mais um passeio de trem

Estamos arrumando as malas pra voltar e o tempo pra manter a atualização destas maltraçadas anda escasso. Mas pra não dizerem que eu os abandonei, taí mais um trailer espetacular de um filme que nunca foi feito. Nele vocês poderão ver a vida dura que levam o vô Cesar e a vó Lúcia.

Enjoy.

segunda-feira, 14 de fevereiro de 2011

Vai um valentines aí?

Hoje, aqui por esses lados, comemora-se o dia de São Valentino. Não tenho a menor idéia por que, em algum momento da história, a data em que um mártir cristão morreu, na longínqua Roma do ano 269 (ou 270), virou o momento ideal para expressar amor, carinho e outros sentimentos semelhantes.

Não existem registros confiáveis sobre essa história. Há até quem diga que viveram na época e naquela região três Valentinos (um nome muito popular, com certeza) que foram perseguidos por sua fé e acabaram mortos no mesmo dia. E, pra facilitar, tem as versões dos protestantes e dos católicos, cada um puxando a piedosa brasa para seu turíbulo.

Bom, diz uma das lenda que o Valentino esse, quando na prisão, curou milagrosamente a cegueira da filha de seu carcereiro, pouco antes de ser morto da forma mais terrível, como era rotina matar cristãos naqueles dias. Ele foi preso e morto (ou, como dizem os jornais brasileiros de uns tempos pra cá, "teria sido preso e morto") porque era um bispo que, secretamente, fazia casamentos dos soldados, contra a ordem romana que proibia casamentos de jovens. Não ficou claro pra mim se os soldados casavam entre si ou com mulheres.

Seja como for, naquela época, não sei se vocês lembram, havia uma certa relação de causa e efeito: o mártir virava santo. E alguns séculos depois um papa atribuiu o dia 14 de fevereiro a São Valentino.

Aquele boa praça que contrariava a ditadura romana, unia casais enamorados e acabou devorado pelos leões (pelo menos foi isso que aprendi nos filmes americanos sobre a Roma antiga) parece que, ao longo dos séculos, emocionou o povo de muitas regiões. E o dia de São Valentino ficou sendo aquele dia em que a gente manda valentines (bilhetinhos escritos à mão com trovinhas carinhosas) para as pessoas queridas.

Mais tarde, a implacável máquina comercial de moer feriados, transformando-os em apelo para vendas, apropriou-se também desta data. E haja caixa de chocolate em formato de coração, cartões impressos com todo tipo de mensagens, para todos os gostos e também (em grande número) para os e as sem gosto. E hoje a gente se sente obrigado a dizer "I love you" para alguém. Nem que seja para o gato de estimação.

Diferentemente do nosso dia dos namorados, pais podem dar ou mandar valentines para seus filhos, amigos podem trocar valentines sem necessariamente virar uma proposta para "ficar" ou coisa parecida. Mas, é claro, o mais comum é que os apaixonados sejam levados a cumprir essa obrigação social. Imagina, não se pode deixar a esposa, noiva ou namorada chegar no serviço sem um valentines que possa exibir, orgulhosa, como atestado de que alguém a ama. Nem que seja só hoje. E porque a TV insistiu, durante toda a semana, que era preciso fazer alguma coisa.

Em todo caso, pra entrar no clima, vou dar um colinho especial para o neto, um abraço na filha, um olhar amistoso para o genro e inventar alguma coisa nova pra dizer pra Lúcia. Que, desde 1970, quando publiquei a primeira crônica declarando meu amor ("ela tinha 15 anos, seu pedófilo!"), já ouviu de mim tudo que um homem pode dizer para uma mulher. Desde o clássico "sim, querida", até propostas mais ousadas ("posso deixar a louça pra lavar amanhã?"), passando por todo aquele elenco de palavras carinhosas (e absolutamente verdadeiras) que o homem aprende a dizer sem pensar quando a mulher, arrumada, pergunta "como estou?"

Happy Valentine's day pra vocês também.

quinta-feira, 10 de fevereiro de 2011

Atendimento em domicílio

Aqui são quatro da tarde e estou quietinho, na mesa da copa, escrevendo estas maltraçadas enquanto ali, na sala, o Nicolas recebe a visita de uma agente de saúde pública especializada em grávidas e pós-grávidas e seus nenens (uma midwife, que tem curso de três anos para exercer sua atividade). Desde que ele nasceu ela tem aparecido de dois em dois dias. Agora está sendo pesado e examinado. Em seguida, sem pressa, ela ouvirá as dúvidas da mãe, explicará o que for necessário e fará anotações no caderno que acompanha o nenem desde a maternidade. Depois dos dez primeiros dias, as visitas ficarão mais espaçadas.

Todo o acompanhamento da gravidez, o parto e agora o acompanhamento do recém-nascido é feito gratuitamente pelo governo britânico. Por ordem de Sua Majestade, provavelmente. E isso de vir alguém em casa (sim, sim, todas as casas, qualquer casa, onde quer que tenha um recém-nascido registrado no SUS daqui) dá enorme tranquilidade para as mães estreantes. Elas estão, como é fácil imaginar, repletas não só de leite, mas também (e talvez principalmente) de dúvidas. Ter alguém a quem perguntar sem ter que ir atrás, na rua, em algum posto de saúde lotado, é muito tranquilizador.

O Nicolas, a proposito, está cumprindo muito bem a meta estabelecida, de recuperar o peso do nascimento em até duas semanas. Provavelmente a alcançará antes disso.

Quando eu estava na maternidade esperando o Nicolas (na sala de espera, claro), vi uma cena que há muitos anos não se vê mais com facilidade no Brasil. Um pai sai da sala de parto, onde acompanhava a esposa e vem à sala de espera contar a novidade aos pais dela: "nasceu, é um menino!" Sim, aqui ainda é comum as gestações chegarem ao final sem que os pais saibam o sexo da criança.

Sim, sim, o governo inclui exames de ultrassom no acompanhamento gratuito da gravidez. Mas desde que alguém entrou com um processo de perdas e danos porque tinha sido informado que seria um menino e nasceu uma menina (ou vice-versa), o governo não informa mais o sexo. E nas clínicas particulares o exame é cercado de grades precauções e os pais são avisados que não é 100% garantido.

Minha mulher, que teve e criou três filhos em Florianópolis (com uma ajuda mínima deste que vos fala), participa entusiasmada da conversa com a midwife. No primeiro filho nosso pediatra particular, o Fernando Boing, até foi lá em casa uma vez. Mas o normal (pelo menos naquela época, final da década de 70) era a gente ir atrás. Quem podia colocava o nenem no carro (sem cinto, sem cadeirinha) e ia à clínica particular. Ou tentava resolver as principais dúvidas por telefone.

Bom, a midwife já foi. Nos próximos dias virá uma outra agente, para fazer a programação de vacinas e a transição desse atendimento intensivo dos primeiros dias, para o atendimento normal do sistema de saúde. E isso que ele nem é cidadão britânico. O fato de ter nascido aqui não lhe dá automaticamente a cidadania. Os pais precisam ser residentes permanentes por alguns anos (parece que cinco) e o Danilo e a Marta estão aqui há apenas três. Pra todos os efeitos, ainda que seu nascimento tenha registro oficial aqui, Nicolas é brasileiro.

E aí já começa o sofrimento: terá que ir a Londres, porque só lá tem consulado, para ser registrado e fazer passaporte. Será que enfrentrará sua primeira fila?

quarta-feira, 9 de fevereiro de 2011

Cartão postal

Reuni algumas fotos da cidade (e de um castelo que fica próximo), escolhidas meio aleatoriamente, pra dar uma idéia do lugar e também para aliviar um pouco a saudade antecipada, que já começa a surgir à medida em que a data de ir embora se aproxima. Ao fundo, uma música do norte da Escócia, para entrar no clima.

Sensação de segurança

Fui imprimir umas fotos na maquininha que tem num supermercado aqui perto de casa. A máquina, que a gente mesmo opera e que imprime as fotos em papel fotográfico na hora, fica numa área mais perto da saída, num hall onde também ficam as lojinhas (lavanderia, lotérica, ótica, farmácia, etc) que em geral compõem o "centro de compras" dos supermercados maiores.

A gente enfia o pendrive, seleciona as opções na tela e a máquina, em pouco tempo, solta as fotos numa caixinha e imprime a notinha. O cliente então pega a notinha e sai atrás de um caixa para pagar. Sozinho. Nenhuma barreira física impede que o sujeito pegue as fotos e saia do supermercado. Não tem ninguém fiscalizando o uso da máquina. Talvez, remotamente, alguma câmera registre aquela área. Mas o normal é pegar a notinha e ir ao caixa (que nem fica tão perto assim) para saldar sua dívida.

No centro da cidade fui comprar uma garrafinha de água numa lojinha tipo mini-mercado, bem pequena. A geladeira com águas e refrigerantes ficava logo na entrada. O caixa, lá no fundo. No Brasil (e em muitos outros países ou mesmo em grandes cidades de "primeiro mundo") o pessoal tem que fazer um cerco físico na saída e em geral o cara que cobra fica junto à porta. Isso de pegar a mercadoria lá perto da porta e depois ter que ir corredor adentro procurar onde paga, era novo pra mim.

As casas não têm muros, grades e portões. Quer dizer, algumas têm muros e cercas. Quando não são baixinhas, têm a função de proteger da visão externa algumas áreas. Nada que impeça seriamente a entrada. As posturas municipais determinam como se deve construir, definindo com grande detalhe o estilo arquitetônico. E numa das regiões todos os edifícios são de dois andares, com quatro apartamentos cada um. Os apartamentos térreos têm portas para a rua, como se fossem casas e os do andar superior podem ser acessados por uma escada no centro do prédio. Coberta, mas sem porta ou portão. E sem muros.

O condomínio onde mora meu neto (e seus pais, claro), fica à beira de um rio, onde tem um caminho muito utilizado tanto por quem corre ou caminha para se exercitar, quanto para passeios nos finais de semana (mostro um trecho no filminho que coloquei ontem). E o que separa essa trilha dos edifícios é uma cerquinha de madeira. A proteção é dada, naturalmente, por uma plaquinha onde se informa que aquilo é propriedade particular e que a entrada só é permitida para moradores. Parece ser suficiente, porque não se tem notícia de problemas por ali.

Não há uma preocupação generalizada com garagens para os carros. Muitos pernoitam na rua. Tanto na rua mesmo, via pública, quanto dentro da propriedade, mas ao relento. Sem portões, grades ou muros altos. É um problema nas manhãs frias de inverno, porque antes de sair tem que raspar o gelo dos vidros, passar o anticongelante e, se for o caso, tirar a neve. E a verificação mais fácil da escassez de garagens é, logo depois das nevascas, ver os carros, nas ruas e nos estacionamentos de shoppings com restos de neve no teto. Os que estão limpinhos (porque ficaram em algum abrigo protegido) são muito raros.

O condomínio onde mora minha filha tem área de estacionamento para os carros dos moradores, "protegida" por um muro e um portão. Não é muito grande e às vezes falta lugar para carros de visitantes ou quando tem mais de um carro no apartamento. Um vizinho, que tem uma BMW Z4, às vezes deixa o carro estacionado do lado de fora do muro. Durante a noite! E dias inteiros. O normal é ninguém mexer nos carros. E encontrar o carro no mesmo lugar (se estiver em local onde é permitido estacionar), horas ou dias depois.

Fiz compras em três supermercados de grandes redes (Tesco, Asda e Sainsbury) e em todos, se a gente se distrair, acaba saindo com o carrinho de compras da área onde ficam os caixas. Não há barreiras físicas que levem ao "embretamento" do usuário, entrando ou saindo por uma única passagem estreita. Pode-se entrar direto, como nas lojas de departamentos. Na saída, o normal é procurar os caixas.

Essas historinhas, contadas com o deslumbramento de um manezinho cansado de tanta "sensação de insegurança" na terra natal, não significam que no Reino Unido não existam ladrões e criminosos em geral. Ou que seja assim também nas grandes cidades, como Londres e Glasgow. Mas o fato é que, nestas poucas semanas, tenho desfrutado de uma sensação de segurança que é muito agradável. O normal não é o roubo, o golpe, bater carteira, enganar no troco. Isso até deve acontecer, claro, mas não no nível endêmico que temos aí em casa, onde o normal é que tudo o que não estiver amarrado ou gradeado, será roubado. E a vida, ora, a vida não vale dois tostões.

terça-feira, 8 de fevereiro de 2011

O roteiro de todo dia

Como já sabem os leitores habituais, estou hospedado num hotel bem próximo do apartamento da minha filha (e do meu novo neto). Ontem de manhã nevou bem na hora em que eu estava indo, para cumprir meu expediente diário. Como vivo de câmera em punho, gravei em vídeo alguns trechos da caminhada debaixo da nevasca. E ao colocar no computador, vi que uns dias antes tinha gravado mais ou menos os mesmos trechos num dia ensolarado. Aí não resisti e juntei o sol e a neve na mesma caminhadinha.

Taí:



Ah, a moto BMW esquecida na neve e o Audi são dos vizinhos.

EM TEMPO

Hoje de manhã, quando não tinha mais neve nem estava chovendo, o cuidadoso dono da motocicleta tratou de cobri-la. :-)

segunda-feira, 7 de fevereiro de 2011

O direito de ir e vir

Nota do editor: como estou há alguns dias sem publicar nada e não queria demorar ainda mais, vou colocar no ar este texto ainda sem as ilustrações. Depois, assim que der tempo, coloco algumas fotos.
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É mais ou menos inevitável que, ao viajar, a gente comece a fazer comparações entre o que encontra e o que temos e casa. Geralmente observamos com mais atenção aqueles aspectos que nos incomodam mais. E, como pano de fundo, ainda levamos na mala aquela velha mania ("tendência recorrente" diriam os modernos) de achar a grama do vizinho é sempre mais verde.

"PEGA O ÔNIBUS AÍ EM FRENTE"

Quando fizemos aquela parada inesperada em Madri, logo no começo da viagem, no dia 19 de dezembro, a gente resolveu ir passear no centro da cidade. Aí perguntei na recepção do hotel como fazer para ir até lá (estávamos próximo do aeroporto de Barajas). A mocinha disse, com naturalidade: "pega o ônibus número tal nesse ponto logo aí em frente".

Claro que minhas experiências florianopolitanas com ônibus de linha me deixaram com os quatro pés atrás. Mas resolvemos experimentar. E qual não foi a surpresa: apesar de ser domingo, não demorou muito. Além de permitir ir vendo a paisagem do lado de fora das janelas, ainda permite conhecer um pouco do pessoal local que usa o ônibus.

Foi um bom passeio, barato e rápido. E nos lembrou que, em muitas cidades do mundo, o carro individual é uma opcão, não uma necessidade.

"RODO-FERROVIÁRIA"

A cidade onde estou (Aberdeeen, no nordeste da Escócia), não é muito grande. O município (Aberdeenshire) tem cerca de 240 mil habitantes. Mas é a principal base, no Reino Unido, para as empresas petrolíferas que operam no mar do Norte, o que reforça bastante a economia da região. Que, de resto, é conhecida no mundo pela sua pecuária (a qualidade da carne dos bovinos da raça Aberdeen-Angus é lendária) e, claro, pelas destilarias de uísque.

E Dyce, o bairro onde minha filha, meu genro e agora também meu neto estão morando, é próximo ao aeroporto. Mal comparando, equivale ao Carianos aí em Florianópolis. A distância do aeroporto ao centro é mais ou menos a mesma que a daí. Talvez um pouco mais.

Como na maioria das cidades européias, tem uma estação ferroviária no centro da cidade. Que, como na maioria das cidades do Reino Unido, tem uma rodoviária bem próximo. Aqui, fizeram há pouco tempo (foi inaugurado em 2009), um shopping center rodeando as duas. É possível descer do trem e ir pegar um ônibus intermunicipal passando por dentro do shopping. Numa cidade de invernos rigorosos, essa caminhadinha ao abrigo do frio e da chuva tem o seu valor.

Como tem uma estação de trem próximo ao aeroporto e o aeroporto é perto de casa, dá pra ir ao cinema (no shopping) de trem. Mas também dá pra chegar de avião a Aberdeen e pegar um trem para alguma das cidades próximas. Ou mesmo para o centro da cidade.

Ah, daquele shopping (Union Square) a que me referi, sai um ônibus expresso para o aeroporto. Portanto, ao chegar de avião, é possível também pegar um ônibus que te deixa no centro. Mais precisamente ao lado das estações rodoviária e ferroviária.

Vou lembrando essas coisas porque sei como é chegar de avião a Florianópolis e não ter como sair do aeroporto. Dependendo do horário (e do atraso do vôo) não tem taxi, que é a única forma de transporte terrestre colocada à disposição dos viajantes. Sim, tem também ônibus de linha, mas é de uso complicado para quem não conhece as manhas do "sistema" local.

CARRO PRA QUÊ?

Em Londres, Paris, Madri, Barcelona, Moscou, Nova Iorque, Washington e mais umas tantas grandes cidades, o sistema de transporte coletivo conta com a ajuda inestimável do metrô. Que permite, dependendo da sua capilaridade, ir literalmente a todo e qualquer ponto da cidade sem grandes transtornos, rapidamente e a um custo razoável. Ninguém precisa ter carro

Nas cidades menores, como Aberdeen, o carro ainda tem seu valor, dependendo de onde a pessoa mora. O ônibus, em todo caso, é uma boa opção. Outro dia tinha ido ao supermercado aqui perto de casa (a pé, doze minutos de caminhada) para pegar meus óculos (outra hora conto essa da ótica com oftalmologista dentro) e resolvi experimentar o ônibus para ir de lá até o centro.

Claro que, com as paradas e passando pelos locais mais habitados, o ônibus leva uma hora para fazer um trajeto que o trem, que é direto, leva dez minutos. Mas é muito amigável. Pra começar, a entrada é no nível da calçada. Ninguém precisa se esgarçar para "subir" no ônibus. Nos pontos com abrigo, tem um painel mostrando quantos minutos falta para o próximo ônibus chegar. E o ônibus para em cada ponto exatamente no horário em que deveria parar. Entra cachorro (acompanhado de seus donos, claro), entra bicicleta, entra velho, entra moço e ninguém precisa ficar se agarrando nas curvas pra não cair, nem tem freadas abruptas.

A caminhada da estação de trem de Dyce até em casa é relativamente longa. Uns 20 minutos, meia hora. Se está chovendo ou nevando, o jeito é pegar um taxi. Taxi é sempre um carro maior, confortável, espaçoso. Nada de carro "popular". E o preço, comparado com Florianópolis, não é assustador. Esse trajeto aí dá umas cinco libras (cerca de R$ 13,00).

Aquele pensamento inicial, meio que típico de brasileiro em férias, "preciso alugar um carro" foi abandonado logo nos primeiros dias. A gente tem conseguido se virar sem carro. Claro, para algumas coisas tem os carros da família, mas o Danilo trabalha e a Marta está ocupada com o filho, o que impede de tê-los o tempo todo à disposição. E por causa do seguro e da legislação local, não é qualquer um que pode dirigir qualquer carro. Para usar os carros deles sem que um deles esteja dirigindo, é necessário fazer autorizações e pagar adicionais no seguro. Se fosse o caso, seria mais fácil e rápido alugar um carro.

Ah, e tem outra coisa que ajuda a encarar as idas e vindas com mais tranquilidade e até com uma certa inveja: acidentes de trânsito são raros. E em geral menos graves que aí. Aquelas imagens quase diárias, de carros completamente destroçados, gente presa nas ferragens, a macabra estatística de milhares de mortes, sem falar nos aleijados, nas famílias traumatizadas, não existem por aqui. São realmente acidentes, que acontecem de tempos em tempos e geram grande comoção. Aí nem podem mais ser chamados de "acidentes", porque são rotina. É coisa do dia-a-dia a que, lamentavelmente, estamos nos acostumando.

sexta-feira, 4 de fevereiro de 2011

Esse Palhares...

Nicolas, Marta e Danilo
Pronto, já reassumi, para tristeza de várias leitoras que preferem o Palhares, aquele canalha, ao bem comportado titular destas maltraçadas. Enquanto me ocupava das tarefas que me couberam nesses dias, pensei um pouco sobre os rumos deste blog, daqui pra frente.

Existem várias formas de conduzir a coisa. Uma delas foi a utilizada pelo Vô Noblat, quando nasceu sua primeira neta. Publicou um "Diário de Avô" (cujo link não coloco aqui porque a globo.com exige cadastro e não quero participar do enriquecimento da família Marinho), com informações detalhadas (e algumas até, a meu ver, constrangedoras) sobre o dia-a-dia familiar.

Não pretendo fazer isso. As gracinhas, caquinhas, manhas, chorinhos e sustinhos que rodeiam um recém-nascido têm sentido para o círculo familiar, facilmente alcançável pelo skype, e-mail e outras ferramentas semelhantes. Um blog, ainda mais quando o endereço já circulou num grupo maior, não é como a sala da casa da gente, onde o nenem circula de colo em colo e onde são feitas minuciosas observações sobre cada detalhe da anatomia multifacetada do menino: "O nariz é do Cesar, a boca é da Marta, as orelhas do Danilo, a testa da tia Morgana..." Coitado, parece que só tem dele mesmo o material com que aromatiza as fraldas.

A menos que surjam veementes manifestações contrárias, vou continuar a comentar coisinhas desta parte do mundo, que chamaram minha atenção tanto por sua curiosidade, como pelo desejo, que a gente sempre tem ao viajar, que um dia existam também na nossa casa.

Agora com licença que vou assistir ao banho do Nicolas.

quinta-feira, 3 de fevereiro de 2011

Deixa comigo!

Bom dia: naturalmente vocês entendem que o tio Cesar (que já é avô desde fevereiro de 2010, mas insiste nessa bobagem de "tio") esteja um pouco afastado deste blog. Está cheio de ocupações domésticas, fazendo de conta que ajuda a mulher dele a arrumar a casa e fazer um monte de coisas. Por isso, aproveitei minha rápida passagem pela Escócia e o fato do computador estar ligado, sem ninguém por perto, para, mais uma vez, escrever um post no lugar dele.

Para aqueles que ainda não reconheceram o estilo, me apresento: Aristofanes Palhares, seu criado. Nelson Rodrigues difamou meu nome, qualificando-me, ou a algum de meus antepassados, de "Palhares, o canalha", mas vocês verão que ele foi completamente injusto. Porque sou, na verdade, uma flor de pessoa.

Mas vamos lá, que nosso tempo é precioso e daqui a pouco pode ser que o Landinho volte (é um dos apelidos de infância do Cesar Orlando e ele detesta ser chamado assim kkkk).

Tem monte de coisa interessante acontecendo ao redor e o tanso do CV nem nota. Por exemplo: na maternidade onde o neto dele nasceu, tem um lugar pra trocar os nenens. Quando alguém, depois de ver a cara do pequeno, não gostou, ou quando veio com algum defeito, é só ir no setor de troca de nenens. Olha só:

Clica nas imagens pra ver maior. "Baby change"= troca de beibis
A Marta e o Danilo deveriam ter dito que eram de Florianópolis, para serem acomodados no setor de ilhas ("Island Accomodation"), conforme se vê que existe, no cartaz abaixo.
Ilhas, antenas e gráfica?
Aliás, olhando para esse cartaz a gente vê que os hospitais públicos escoceses diversificam bastante o atendimento, decerto para poder ter outras fontes de renda, além do dinheiro da Rainha. Olha só: tem uma clinica de antenas e um setor de scanner. Não sei se é muito prático, mas, em todo caso, parece interessante: leva a mulher pra ter nenem e aproveita pra levar a antena pra dar uma garibada, no mesmo lugar. E scanner, como vocês sabem, é usado para digitalizar fotos, uma espécie de máquina xerox, que "fotografa" as imagens.

Mesão do bandejão
Ontem fui almoçar no bandejão da maternidade. Se nos restaurantes normais os escoceses e ingleses são conhecidos pela falta de talento culinário, imagina no bandejão. Que o Cesar não me leia (ele é todo cheio de dedos, bem Pollyanna, sempre vê um lado bom e acha que não se deve ofender o anfitrião), mas tinha um troço melequento e sem gosto, que serviam com pure de batatas, que não dava pra saber se era macarrão com queijo ou sopa de aspargos. Daí dei uma fugida pra comer fish and chips, que é peixe empanado com batata frita. Uma espécie de prato nacional, que eu tenho comido bastante porque lembra a bandeira brasileira quando eles colocam ervilhas. Olha só:
Quando o peixe fica sequinho, até que é bem bom.
Mas voltando ao hospital. Como não me deixam entrar em lugar nenhum, porque não sou parente e porque o "tio" me proibiu de ficar por perto da família dele, tenho que zanzar nos corredores onde visitantes são permitidos. Num deles, tinha um cartaz enorme, com muitas explicações sobre como é que funciona o sistema de saúde. Até fotografei um pedaço, pra comentar co vocês.
Nove semanas? Isso parece nome de filme!
Nessa parte do cartaz diz, mais ou menos o seguinte (podem confiar na tradução porque, afinal, tenho inglês básico e trabalhei muito tempo num trailer de lanches): mesmo se você tem um médico na família (olha o absurdo, tem que ter um parente médico!) tem que esperar pelo menos nove semanas para ser atendido por um especialista. E pra isso o médico da sua família inda precisa dar uma letra pro hospital, pra que o sujeito entre na fila. Em algumas especialidades (hematomas, neurotomas e neurosugestões) o prazo é menor e em outras, como oftalmologia; cirurgia no general (privilégio para militares?); ginecologia; ouvido, nariz e garganta (coitados, não usam a palavra brasileira otorrinolaringologia, que simplifica bastante a compreensão dessa especialidade); e urologia. E a gente ainda se queixa do SUS!

Ah, vocês sabem que tem duas coisas difíceis de encontrar nos hotéis baratos da Europa: geladeira no quarto e chuveiro. Parece que ninguém dá valor a um bom banho diário. E isso, que no começo incomoda, à medida em que a gente se ajusta à cor (e ao odor) local, vai deixando de ser um problema. O sábado é, de fato, o melhor dia para encher a banheira e esfregar com calma as partes. No resto dos dias, é só trocar a camisa de vez em quando.

Já a falta de frigobar, de uma geladeirinha, é mais chato. Mas no inverno a coisa tem saída. A Lúcia, que é quem escreve as piadas mais engraçadas que o "tio" usa como se fossem dele, sem dar crédito, chamou de "janeladeira" essa geladeira improvisada: como na rua raramente a temperatura passa dos 4º, qualquer coisa que fique na rua é como se estivesse dentro da geladeira. Não é genial a "janeladeira"?
Iogurte e refrigerante do lado de fora da janela. Bem geladinhos.
O único risco da janeladeira são as gaivotas enormes que existem por aqui e que comem ou carregam de um tudo. Por isso não dá pra colocar coisas muito apetitosas ali. Mas por enquanto está quebrando o galho. No verão, quando a temperatura sobe para insuportáveis 18º, fica meio difícil. Mas espero, até lá, já ter saído daqui.

Ah, vou ter que terminar, mas tem um segredo que preciso contar. O Cesinha está de olho numa roupinha nova. Quase todo dia passa pela vitrine e para. Já perguntou o preço umas quantas vezes. E tenho a impressão que assim que depilar meia perna (do joelho pra cima), vai começar a escolher o tartã mais adequado. Vai ser lindo, né não? Imagina num dia de vento sul!
Gostei mesmo foi da pochete!

quarta-feira, 2 de fevereiro de 2011

Nicolas!

Ontem ele fez apenas uma rápida aparição pública, meio incomodado com o assédio. O vô paparazzi estava lá, mas não conseguiu muita coisa. Em todo caso, até termos material melhor, aí está o primeiro vídeo do personagem mais aguardado deste blog.

terça-feira, 1 de fevereiro de 2011

Dando tempo ao tempo...

Estamos nos finalmentes. Mais umas duas horas e deveremos saber, afinal, se o Nicolas é bonitinho ou se puxou aos avós.

Tá indo tudo bem, by the way...

NASCEU!

O Nicolas Leite nasceu por volta das 18h (16h no Brasil). De parto normal, com 3,5 kg e não se quantos centímetros. Conforme previsto, mãe, filho e pai passam bem.

FOTOS?

O quarto está na penumbra (ele e a Marta ainda estão se conhecendo) e as fotos não estão lá essas coisas. Mas qdo chegar no hotel (na maternidade não tem conexão para visitantes) coloco no dropbox, para a família. Aqui no blog acho que só amanha, qdo eles chegarem em casa.

Ah, e obrigado pela torcida e pelo bom astral.

segunda-feira, 31 de janeiro de 2011

Tá chegando a hora

A espera de nove meses está no fim. Dentro de mais algumas horas, ou dias, teremos o resultado do que Marta e Danilo prepararam. Aqui do lado de fora, a torcida é grande para que tudo dê certo, que o Nicolas nasça saudável e animado como seus pais. Enquanto isso, para matar o tempo e aliviar o nervoso, fiz mais um "trailer". Olhaí:

sexta-feira, 28 de janeiro de 2011

O tempo voa

Como sabem todos os que acompanham este blog, minha filha Marta está para ser mãe a qualquer momento. Enquanto o Nicolas não resolve sair do bem bom para enfrentar este mundo ingrato, estamos todos em compasso de espera.

E aí é inevitável que muitas coisas passem pela cabeça branca e quase pelada do avô. O fato de ser o segundo neto não alivia muito a expectativa. Afinal, é o primeiro filho da filha caçula.

Não faz muito tempo, todos os três filhos (Marta, André e Pedro) eram crianças que precisavam de nossos cuidados e atenção. Levavamos os três pela mão ainda ontem. Carregávamos no colo anteontem. A Lúcia estava grávida só um pouco antes.

Daí, pra matar um pouco a saudade dos filhos pequenos, fiz um treilerzinho daqueles de brincadeira, com cenas da última grande viagem de férias que fizemos todos juntos. Foi um roteiro meio maluco nos Estados Unidos: Miami-Tampa-Fort Lauderdale de carro, cruzeiro de uma semana pelo Caribe (de navio, naturalmente), Fort Lauderdale-Orlando de carro, Orlando-Washington de trem (num vagão dormitório) e de Washington voltamos ao Brasil.

Agora as três crianças estão em outras viagens, por conta própria. E Lúcia e eu, livres, leves e soltos para tocar nosso próprio trajeto, sem eles. É a vida. E, cá entre nós, uma boa vida.

quinta-feira, 27 de janeiro de 2011

Scotland, pero no mucho

Leitores mais observadores já notaram que não fiz até agora nenhuma referência a dois ícones escoceses: o uísque e o haggis. As explicações são relativamente simples.

1. Como estou na cidade onde os irmãos Chivas (os tais que em 1909 lançaram o Chivas Regal, primeiro blended de luxo de fama internacional) instalaram sua lojinha de secos e molhados em 1801, fico um pouco constrangido de não falar de uísque. Mas o fato é que não sou apreciador. Não saberia distinguir, no paladar, entre um blended e um single malt. Precisaria ter comigo meus amigos Mário Medaglia e Flávio Sturdze, para poder analisar com alguma profundidade e graça o panorama que se descortina nas imensas prateleiras de uísques dos supermercados. Numa das próximas folgas, talvez vá visitar uma das inúmeras destilarias que existem por aqui. E aí falarei um pouco sobre essa bebida que ajudou a tornar a Escócia conhecida no mundo inteiro.

2. O prato nacional da Escócia é o haggis. Todo dia 25 de janeiro, ou nas proximidades, ocorrem celebrações noturnas em memória do grande poeta escocês, Robert Burns, nascido nessa data. E, no centro das solenidades, está o haggis. A quem Burns dedicou um poema.

Para saber o que acontece numa ceia da Burns Night,  clique aqui (em inglês).

Como estou numa casa de brasileiros e acompanhado de uma cozinheira brasileira, é claro que o menu não é escocês. E nos restaurantes, mesmo nos pubs, que em geral têm um cardápio mais local, tenho passado ao largo do haggis, porque nunca fui muito adepto dos miúdos.

A grosso modo, o haggis é um prato feito com miúdos de ovelha (principalmente o coração, pulmões e fígado), temperados e misturados com gordura e aveia, enfiados no estômago da própria ovelha, que é costurado e colocado para cozinhar por várias horas. Tem pronto nos supermercados, mas quem quiser ver um guia ilustrado de como é feito, é só clicar aqui.

Acredito que muita gente goste desse tipo de comida. Aqui tem muitos entusiastas. Mas eu, infelizmente, não sou chegado. Sorry.

quarta-feira, 26 de janeiro de 2011

E por falar em cerveja...

Algumas das cervejas "estranhas" que animaram nosso final de ano
A cerveja é a bebida oficial e nacional do verão brasileiro. O calor é o pretexto para uma "loira estupidamente gelada". Que nem sempre é saboreada. Apenas bebida às pressas, para matar a sede. Mas a verdade é que a cerveja no Brasil (que os políticos que adoram aumentar impostos não nos ouçam) tem fama internacional de ser muito barata.

Há divergências sobre a classificação das cervejas mais consumidas no Brasil. Embora alguns rótulos contenham a identificação "pilsen", há quem assegure que elas estariam melhor localizadas entre as cervejas conhecidas como "standard american lager". Cerveja leve , com sabor mais ou menos uniforme entre as várias marcas, sem grandes emoções gustativas. Fácil de beber, barata e própria, portanto, para consumo de massa.

De uns tempos para cá é que começaram a aparecer algumas novidades. Seja de micro cervejarias ou importadas, já temos acesso a cervejas que fogem do padrão brasileiro de uniformidade. E que, embora alguns bebedores tradicionais possam discordar, têm melhor qualidade.

Apesar dos supermercados de Florianópolis já terem gondolas para as tais "cervejas especiais" e alguns bares oferecerem um estoque grande de marcas de cerveja, a gente ainda se surpreende ao chegar ao setor de cervejas de supermercados de países que apreciam a bebida há alguns séculos, como é o caso do Reino Unido (e da Alemanha, da República Tcheca, da Bélgica, etc).

Geladeira ao ar livre (Se clicar nas fotos, abre-se uma ampliação)
A variedade não é só de marcas, mas também de "sabores". As mais comuns por aqui são Ale, Lager, Pilsen e Stout. E no mundo todo (pelo menos no mundo civilizado) há um crescimento expressivo das pequenas cervejarias. Assim como ocorre em Santa Catarina, onde já é possível fazer um "roteiro da cerveja" bebendo os bons produtos locais em vários municípios. Portanto, as escolhas são difíceis, entre cervejas locais, regionais, nacionais e importadas.

Excelente cervejinha regional

INDICADORES ECONÔMICOS

Já falei, em posts anteriores, sobre a surpresa que foi encontrar aqui preços mais baixos que os do Brasil em vários itens. Pois com a cerveja não foi muito diferente. Tá certo que os preços da cerveja brasileira, das marcas mais consumidas, ainda é mais baixo que os preços que encontrei aqui. Mas estão assustadoramente próximos.

Até onde consegui saber, o preço da garrafa de 600 ml de Skol num supermercado daí está por volta de R$ 2,17, o que dá menos de uma libra (cerca de 0,82). Garrafa de um litro de Skol, no Angeloni, custa R$ 3,99.  É um bom  preço. Mas se a gente começar a sofisticar, a coisa vai ficando mais amarga: Eisenbahn (355 ml), R$ 4,75, Erdinger (500 ml) R$ 12,70...

Em Florianópolis, no supermercado, as latinhas de 350 ml variam de R$ 0,99 (Bavaria) a R$ 1,99 (Heineken).

Bom, esses são alguns dos preços daí, colhidos sem muita precisão, apenas para facilitar a comparação com alguns preços daqui, que anotei num dos supermercados aqui perto de casa (Asda). A conversão de libras para reais foi feita hoje no Google. E a constatação, que me parece óbvia: o Brasil está perto de perder sua fama de lugar onde a cerveja é barata. Pelo menos quanto à cerveja de qualidade, a coisa aí está feia.

Latas de 440 ml (ATENÇÃO: 440 ml)

Foster: R$ 2,45
Stella Artois: R$ 1,72
(nunca é demais lembrar que no Brasil  a Stellinha com 275 ml custa R$ 2,19)
Carlsberg: R$ 1,89
San Miguel (mexicana): 2,75

Lata de 500 ml

Budweiser original (tcheca): R$ 2,15


Garrafas

Grolsch 450 ml: R$ 4,95
Newcastle Ale 550 ml: R$ 4,50
Duvel 350 ml: R$ 4,18
Heineken 650 ml: R$ 5,24
Becks 660 ml: 3,97
Stella Artois 660 ml: R$ 3,97

Nos restaurantes e pubs, é claro que os preços são um pouco mais altos. Tenho tomado pints (copos com 568 ml de chopp) por 3 libras (mais ou menos R$ 8,00). Dependendo da marca e do local, pode chegar a R$ 10,50 ou um pouco mais. Ah, e até agora sempre encontrei as cervejas bem geladas. Até porque a "temperatura ambiente", na rua, equivale ao que encontramos nas geladeiras daí.

Por falar nisso, a unidade básica de consumo por aqui é o pint. Os abstêmios podem pedir copo de meio pint. E como a noitada começa cedo (escurece às cinco da tarde, na hora em que o pessoal sai do serviço e pouco depois os bares já estão cheios), haja pint. Bebendo cerveja à base de copos com meio litro e comendo a excelente comida dos pubs (saborosa, gordurosa e irresistível), temo ter que usar dois assentos no avião, ao voltar para o Brasil.

Bom, fico por aqui. Volto amanhã.

terça-feira, 25 de janeiro de 2011

Lago Ness, não tem?

Aproveitamos a folga do final de semana e fomos dar uma espiadinha no Lago Ness, que é famoso no mundo inteiro porque seria o lar de um monstro que ninguém nunca viu e cuja existência é posta à prova a todo momento.

Se vocês tiverem a curiosidade de olhar no Google Maps ou Earth, verão que se trata de um lago compridão que, para o padrão dos rios brasileiros (em especial do norte do país), seria mais um rio do que um lago. Ele desagua no mar do Norte por meio do rio... Ness. Que é uma espécie de continuação, estreita e rasa, do lago.

À beira do rio está Inverness, a cidade mais próxima do lago (e próxima do mar, tanto que seu nome quer dizer algo como "foz do rio Ness"). É considerada a "capital das terras altas" e ali se preserva com maior cuidado a tradição escocesa, cultivando a história e os costumes.

O monstro do lago, portanto, é o menor dos motivos para se visitar aquela região. Vou contar a cronologia do nosso passeio de sábado. Espero que seja interessante. Só para lembrar: ao clicar nas fotos, abre-se uma ampliação.

SEXTA

Há quem prefira a aventura de comprar entradas e tickets na hora. Mas desta vez preferi o conforto de comprar quase tudo na véspera, pela internet. Dá para escolher o horário do trem, o tipo de passeio, o trajeto, ver se tem lugar e pagar. No dia, é só chegar no horário e aproveitar.

SÁBADO

8h36min - DYCE/INVERNESS

Dyce Airport Train Station. Bem básica, né?
Na máquina de comprar passagens que tem na pequena estação de trem de Dyce (que é o bairro de Aberdeen que equivale ao Carianos, em Florianópolis, porque fica perto do aeroporto), retirei os tickets comprados na véspera. E, com pontualidade britânica o trem chegou. E partiu em seguida.

É uma viagem de duas horas, com várias paradas. Todas rápidas, só para embarque e desembarque. No caminho, paisagens rurais. E uma ou outra destilaria de uísque.

O trem é confortável e a diferença entre a primeira e a segunda classe é apenas a cor do revestimento das poltronas. E o preço, claro.

Taí um animal que não deve ter problemas com o frio...
A tomada elétrica no trem permite carregar celulares e usar laptop
Paisagem vista da janela do trem, em algum lugar do interior da Escócia

10h40 - EXPLORANDO INVERNESS

A estação do trem, como é comum na Europa, fica bem no centro da cidade. É sempre um bom ponto de partida para conhecer as redondezas a pé. No sábado, além do frio, tinha um ventinho que ajudava a derrubar a sensação térmica. Os termômetros marcavam uns 3 graus, mas a faca gelada que cortava as bochechas parecia estar abaixo de zero grau.

Rio Ness, que traz água do lago Ness para o mar do Norte
Inverness, às margens do rio Ness
À direita, o centro da cidade antiga
 Perto da estação, a umas três ou quatro quadras, está o rio Ness, em torno do qual a cidade se instalou. Entre um e outro, o mercado vitoriano (da época da rainha Vitória, saca?) abriga lojinhas do comércio local. Uma delas, de alfaiates especializados em kilts, as famosas saias que os escoceses agora usam apenas em festas e eventos de gala. Mais o menos nas ocasiões em que nós usaríamos smokings.

Outra lojinha interessante é a que vende gaitas de fole e seus acessórios e componentes. Se a palheta da sua gaita precisa ser trocada, ali é o lugar. Se o saco puiu, ali tem o conserto.

Almoçamos num restaurante chamado "The Mustard Seed". Como não tinhamos feito reserva, acabamos num lugar meia boca, longe das janelas. Embora na Escócia se consiga encontrar bons lugares, onde se come muito bem, não foi este o caso. Não que o The Mustard Seed seja um restaurante ruim ou caro. O serviço é eficiente e atencioso. E os pratos pareciam ser feitos com algum capricho, mas não passaram pelo teste das nossas exigentes papilas gustativas. Pedimos um prato de peixe (afinal, estamos à beira mar) e, como resultado, na próxima ida a Inverness procuraremos outro restaurante.

O café foi tomado em outro lugar, uma espécie de confeitaria, muito simpática. E daí fomos para a "rodoviária" que fica ao lado estação do trem, para pegar o ônibus de excursão que nos levaria para passear no lago.

14h15min - LAGO NESS, AQUI VOU EU

Existem algumas empresas que fazem passeios pelo lago. Escolhemos a Jacobite por que é uma das mais tradicionais e opera o ano inteiro. E porque tinha passeios com várias durações e horários de saída. Preferimos um passeio relativamente curto (duas horas e meia) que incluia navegação pelo lago e visita ao castelo de Urqhart, um dos marcos da história da Escócia.

O guia/motorista, muito simpático, ia falando ao microfone durante o tempo todo em que dirigia. O sotaque escocês ajuda a complicar a compreensão do que eles falam, mas sempre que não tinha algum chinês falando alto por perto, dava para ir acompanhando as atrações que ele mostrava pelo caminho.

A excursão que pegamos não era centrada no monstro, mas na história escocesa. O que foi ótimo. Se não tivesse um "monstro" azul no pier onde embarcamos no barco que nos levou lago adentro, nem lembraria que estava no lendário habitat dessa figura puramente imaginária. Localidades às margens do lago cultivam essa lenda com evidente interesse comercial. Tem museu do monstro, centro do monstro, lojas repletas de souvenirs. Mas passamos ao largo de tudo isso. Talvez numa outra vez...

O barco que levou nosso grupo lago acima
Tem locais parecidos com esse na ilha de Santa Catarina, não tem não?
Procurê, procurê, mas não vi o tal monstro do lago Ness.
 A navegação  no Lago equivale a navegar nas baías da ilha de Santa Catarina. No caso, em dia de vento sul, por causa do frio. Que estava meio que insuportável fora da cabine fechada.

O castelo de Urqhart, que foi deixado em ruínas por seus últimos ocupantes, para evitar que os inimigos tomassem posse, tem uma história triste, de derrotas e tragédias, mais ou menos como a história da Escócia. Dominação externa, lutas internas entre os senhores feudais (os clãs eram espécies de feudos e o tal de MacDonald, uma peste), opressão inglesa... não é fácil encontrar momentos de paz ou alegria. Mas é uma história cheia de bravura e coragem. Mesmo com vitórias escassas.

Um dos pontos altos da visita ao castelo é o documentário de dez minutos que se assiste dentro do centro de visitantes. Ao final, a tela sobe a as cortinas se abrem permitindo ver, na grande janela envidraçada, o castelo, ou o que sobrou dele. Claro, pouca gente tem saco para essas coisas históricas. Do nosso grupo, apenas Lúcia e eu assistimos a essa apresentação.

Restos de uma catapulta usada em um dos inúmeros sítios à fortaleza
O lago Ness e as ruínas de Urqhart

17h11min - INVERNESS/DYCE

O ônibus da Jacobite (o nome da empresa vem dos Jacobitas, católicos que tiveram grande participação na história local) deixou-nos no centro de Inverness pontualmente às 17h. Como a estação ferroviária fica no... centro da cidade, ainda conseguimos pegar o trem das 17h11min. O retorno teve um atraso num dos trechos e chegamos em Dyce um pouco além do previsto, às 19h40min. Lamentável. Ainda que o motorneiro, compungido, tenha pedido muitas desculpas pelo inconveniente.

No "trailer" abaixo, mais uma brincadeira, mostrando cenas do passeio. A "vítima", desta vez, é a Lúcia.

segunda-feira, 24 de janeiro de 2011

Pode vir

Chegamos agora àquele período em que o guri pode nascer a qualquer momento. O limite é 31 de janeiro. Se não nascer até lá, vamos entrar com uma ordem de despejo para recuperar o imóvel. Não há, portanto, muito a fazer além de esperar.

Marta e Danilo são previdentes e, como estão há tempos planejando essa aventura, têm tudo pronto. O moisés dos primeiros dias, o berço, o carrinho, a cadeirinha pro automóvel, roupas, etc, tá tudo arrumadinho, limpinho e pronto pra usar. Ah, se clicar nas fotos abaixo, abre-se uma ampliação.

A "frota" do Nicolas: balancinho, moisés, carrinho e berço.

No Reino Unido, quando a pessoa fica grávida avisa seu centro de saúde e marca uma consulta com a midwife, que é uma profissional de saúde, uma espécie de enfermeira cuja função, em certa medida, é parecida com o que a gente conhece, no Brasil, como parteira. A partir da primeira consulta, a grávida passa a ser acompanhada pela "sua" midwife. Ela coleta sangue, testa urina, faz os testes, medições e, sempre que necessário, pede ao clínico geral alguma receita.

Se a gravidez é normal, a grávida não vai ao médico. E nem o parto terá a presença de médicos. Apenas midwifes. Na maternidade, contudo, há médicos, que podem se acionados se necessário. Eles acompanham gestações de risco, múltiplas (gemeos, etc) e quando a criança não está na posição correta.

A cesariana, por incrível que possa parecer para os brasileiros, aqui é exceção. Uma cirurgia a que se recorre apenas quando necessário. O normal é o parto... normal. As midwifes estudam, no seu curso profissional, casos como o do Brasil, país que realiza um volume absurdo de cesarianas. Ao atender uma brasileira, preocupam-se em explicar que no UK a forma de encarar a cesariana é diferente. Vai que a criatura é adepta da cesarianomania...

A Marta, contudo, vem de uma família de boas parideiras, sem medo de parto normal e a orientação do serviço de saúde britânico coincide com o que ela pensa. A gravidez foi, com tudo isso, bem tranquila. E tudo indica que o parto também será. Numa maternidade pública. Aberdeen, por falar nisso, não tem maternidade particular. Há algumas cidades, na Grã-Bretanha, que até tem maternidades ou hospitais particulares. Mas não há a menor necessidade de procurá-los, porque a qualidade do serviço de saúde público (e gratuito) é de... primeiro mundo.

Fronha bordada em Florianópolis, pela bisa Flávia

Nas lojas aqui da Escócia tem de tudo para bebês e crianças. E a maior parte das coisas a preços bem inferiores aos que a gente encontra no Brasil. Mas o que não se encontra aqui e que tem bastante por aí, são objetos artesanais. Rendas, bordados, coisas feitas a mão são os melhores presentes que podem chegar do Brasil. Porque são únicos e não tem por aqui.

Marta e o berço. Tudo pronto.

Como já contei num dos posts anteriores, o propósito da nossa vinda (minha e da Lúcia) é ajudar com uma série de tarefas que já ficam difíceis para a Marta, por causa do peso do barrigão e que o marido, que só terá licença quando o nenem nascer, não tem como fazer.

Além da faxina, as comidinhas caseiras da vó Lúcia também têm feito muito sucesso. Os sabores e aromas que têm sido produzidos todos os dias são os mesmos que povoaram a infância e a juventude da Marta. E, desde o final do século passado, também foram ficando familiares ao agregado, Danilo.

Lúcia, a cozinheira importada do Brasil,

E a tecnologia ajuda a preservar a tradição. Outro dia, deu desejo de comer o pastelão de camarão da vó Flávia (mãe da Lúcia, exímia cozinheira, que está em Florianópolis). Mas ninguém lebrava direito da receita, porque era sempre a Flávia que fazia. Graças ao skype (e à habilidade da Flávia que, com 81 anos consegue ligar o computador, conectar-se à internet e atender a uma chamada com vídeo), Lúcia e Marta conversaram com a mestra do pastelão e conseguiram arrancar os segredos da receita. Daí foi só mandar o vô Cesar ao supermercado buscar os ingredientes que faltavam e pronto.

Um dos pratos de maior sucesso: pastelão de camarão, receita da vó Flávia.

domingo, 23 de janeiro de 2011

Notícias de casa

Por mais que a gente queira "se desligar", sempre acaba, quando em viagem, dando uma espiadinha em como vão as coisas "em casa". Agora, com internet disponível em todo lugar, com wi-fi e 3G, smartphones e tuíter, a tarefa é simples e rápida. Em poucos minutos a gente fica sabendo dos estragos da chuva, das mesmices ditas pelas "autoridades", da falta de prevenção e da luta dos abnegados que, na hora do desastre, ou pouco depois, sempre fazem a diferença.

Se fosse depender dos noticiários da TV local, ficaria sem saber notícias de casa. Aqui no UK, acompanhamos até com bastante detalhe as inundações da Austrália. Mas o desastre no estado do Rio mereceu poucos minutos, durante uns dois ou três dias e depois o Brasil voltou a submergir no esquecimento.

A única emissora de TV brasileira disponível para quem tem tv por asssinatura no Reino Unido é a Record Internacional. Grátis, no pacote básico da SKY. Ah, teoricamente também tem a Globo Internacional, mas pra assinar é uma chatice (tem que por outra antena, etc), além de ser caro paca (veja preços e condições aqui). Resultado: pra ouvir notícias em portugues brasileiro tem que ser com a turma do bispo. Bom, como eu não assistia a Record no Brasil, também não vejo aqui, exceto um ou outro trecho de noticiário. Mas tá ali, pra quem quiser.

Por falar nisso, a grade de programação da Record aqui na Europa (veja o site do canal aqui) inclui o "Fala Portugal" um programa transmitido em portugues de portugal. Não entendi direito. Concorrência com a RTP? Afinal, a clientela não seriam os brasileiros espalhados pelo mundo? Bom, deve ser algum projeto para familiarizar os brasileiros com o portugues europeu.

O fato é que, quando "em casa" a situação tá russa e a maioria está preocupada com as chuvas e suas consequencias, fico meio sem jeito de ficar falando de coisas nada a ver. Por isso, fico por aqui, desejo um domingo mais calmo pra vocês todos e volto amanhã com historinhas deste lugar aqui no norte do mundo onde não só não tem chovido como, pior, também não tem nevado.

sexta-feira, 21 de janeiro de 2011

O frio, esse desconhecido

Marta e Danilo nas ruínas do castelo de Stonehaven

Nós, os brasileiros (em especial os do sul), temos uma relação meio complicada com o frio. A razão, acho, é simples: como nossas casas não estão preparadas para o frio, acabamos vivendo 24h na temperatura ambiente. Se lá fora está 10 graus, dentro de casa estará, quando muito, 15 graus. Se não estiver ainda mais frio. Isso o tempo todo. E aí não tem quem aguente.

Quando a gente ouve falar em lugares que passam meses com uma temperatura externa de zero grau, pouco mais ou menos, tem até um arrepio porque nos imaginamos tremendo, dentro de casa, enrolados em cobertores, com aqueles puloveres grossos de lã. Passando frio.

E a realidade, nos lugares preparados para baixas temperaturas, é que se sente muito menos frio que nos invernos de Florianópolis.

O inverno aqui em Aberdeen não está muito rigoroso. Hoje, por exemplo, está uns 4 graus. Perto do Natal estava abaixo de zero (e nevou bastante). Mas já teve dia, no começo do mês, que chegou a 10 graus. Dentro de casa, contudo a temperatura é de cerca de 25 graus. Dá pra andar de camiseta de mangas curtas.

Pra ir do hotel até a casa da Marta, numa caminhada de menos de cinco minutos, coloco o casaco (um bem quentinho, que comprei no Canadá há quase dez anos), um gorro para cobrir a careca e as orelhas (orelhas e nariz são as primeiras coisas a congelar e cair :-)), luvas e um sapato ou botina impermeável (para o caso de ter gelo, barro, chuva ou neve). Coisas que, ao chegar, são tiradas e penduradas perto da porta de entrada. Dentro de casa, roupa "normal": nada de puloveres, casacos e outros agasalhos que costumamos usar no inverno florianopolitano.

Raramente a gente fica na rua mais de cinco minutos (sai de casa, entra no carro, desce do carro, entra no supermercado, etc). Nem dá tempo de sentir frio, se o casaco é apropriado.

Pra quem gosta de caminhar ao ar livre, ou vai passear em áreas abertas, é claro que é preciso cuidar um pouco mais com a roupa. Mas nada muito complicado (o segredo da roupa quentinha são as camadas: um cuecão sob a calça, uma boa camiseta sob a camisa, etc). E quando a gente está na rua há muito tempo e começa a sentir frio, é só entrar em qualquer lugar (uma loja, um pub, um shopping) pra se aquecer um pouco e depois continuar o passeio.

Ah, o ideal é comprar casacos, luvas, meias, etc, em cidades habituadas com o frio: as lojas oferecem material adequado, com bom isolamento térmico e bom preço. A maioria das "roupas de frio" que a gente encontra no Brasil não funcionam muito bem em temperaturas realmente baixas, com vento ou neve.

Eu e meu velho casaco, num cenário "noir".