quarta-feira, 9 de fevereiro de 2011

Sensação de segurança

Fui imprimir umas fotos na maquininha que tem num supermercado aqui perto de casa. A máquina, que a gente mesmo opera e que imprime as fotos em papel fotográfico na hora, fica numa área mais perto da saída, num hall onde também ficam as lojinhas (lavanderia, lotérica, ótica, farmácia, etc) que em geral compõem o "centro de compras" dos supermercados maiores.

A gente enfia o pendrive, seleciona as opções na tela e a máquina, em pouco tempo, solta as fotos numa caixinha e imprime a notinha. O cliente então pega a notinha e sai atrás de um caixa para pagar. Sozinho. Nenhuma barreira física impede que o sujeito pegue as fotos e saia do supermercado. Não tem ninguém fiscalizando o uso da máquina. Talvez, remotamente, alguma câmera registre aquela área. Mas o normal é pegar a notinha e ir ao caixa (que nem fica tão perto assim) para saldar sua dívida.

No centro da cidade fui comprar uma garrafinha de água numa lojinha tipo mini-mercado, bem pequena. A geladeira com águas e refrigerantes ficava logo na entrada. O caixa, lá no fundo. No Brasil (e em muitos outros países ou mesmo em grandes cidades de "primeiro mundo") o pessoal tem que fazer um cerco físico na saída e em geral o cara que cobra fica junto à porta. Isso de pegar a mercadoria lá perto da porta e depois ter que ir corredor adentro procurar onde paga, era novo pra mim.

As casas não têm muros, grades e portões. Quer dizer, algumas têm muros e cercas. Quando não são baixinhas, têm a função de proteger da visão externa algumas áreas. Nada que impeça seriamente a entrada. As posturas municipais determinam como se deve construir, definindo com grande detalhe o estilo arquitetônico. E numa das regiões todos os edifícios são de dois andares, com quatro apartamentos cada um. Os apartamentos térreos têm portas para a rua, como se fossem casas e os do andar superior podem ser acessados por uma escada no centro do prédio. Coberta, mas sem porta ou portão. E sem muros.

O condomínio onde mora meu neto (e seus pais, claro), fica à beira de um rio, onde tem um caminho muito utilizado tanto por quem corre ou caminha para se exercitar, quanto para passeios nos finais de semana (mostro um trecho no filminho que coloquei ontem). E o que separa essa trilha dos edifícios é uma cerquinha de madeira. A proteção é dada, naturalmente, por uma plaquinha onde se informa que aquilo é propriedade particular e que a entrada só é permitida para moradores. Parece ser suficiente, porque não se tem notícia de problemas por ali.

Não há uma preocupação generalizada com garagens para os carros. Muitos pernoitam na rua. Tanto na rua mesmo, via pública, quanto dentro da propriedade, mas ao relento. Sem portões, grades ou muros altos. É um problema nas manhãs frias de inverno, porque antes de sair tem que raspar o gelo dos vidros, passar o anticongelante e, se for o caso, tirar a neve. E a verificação mais fácil da escassez de garagens é, logo depois das nevascas, ver os carros, nas ruas e nos estacionamentos de shoppings com restos de neve no teto. Os que estão limpinhos (porque ficaram em algum abrigo protegido) são muito raros.

O condomínio onde mora minha filha tem área de estacionamento para os carros dos moradores, "protegida" por um muro e um portão. Não é muito grande e às vezes falta lugar para carros de visitantes ou quando tem mais de um carro no apartamento. Um vizinho, que tem uma BMW Z4, às vezes deixa o carro estacionado do lado de fora do muro. Durante a noite! E dias inteiros. O normal é ninguém mexer nos carros. E encontrar o carro no mesmo lugar (se estiver em local onde é permitido estacionar), horas ou dias depois.

Fiz compras em três supermercados de grandes redes (Tesco, Asda e Sainsbury) e em todos, se a gente se distrair, acaba saindo com o carrinho de compras da área onde ficam os caixas. Não há barreiras físicas que levem ao "embretamento" do usuário, entrando ou saindo por uma única passagem estreita. Pode-se entrar direto, como nas lojas de departamentos. Na saída, o normal é procurar os caixas.

Essas historinhas, contadas com o deslumbramento de um manezinho cansado de tanta "sensação de insegurança" na terra natal, não significam que no Reino Unido não existam ladrões e criminosos em geral. Ou que seja assim também nas grandes cidades, como Londres e Glasgow. Mas o fato é que, nestas poucas semanas, tenho desfrutado de uma sensação de segurança que é muito agradável. O normal não é o roubo, o golpe, bater carteira, enganar no troco. Isso até deve acontecer, claro, mas não no nível endêmico que temos aí em casa, onde o normal é que tudo o que não estiver amarrado ou gradeado, será roubado. E a vida, ora, a vida não vale dois tostões.

Um comentário:

Anônimo disse...

Vais ter que fazer uma readaptação a realidade brasileira. Fugiram mais de 50 na Penitenciária que fica na Reta da Saudade e ainda não recapturaram todos. Ainda bem que te mudastes para o Jurere, que anda sofrendo com invasões como o Carlos Wanderlei que levaramn quase tudo da casa dele. Não volta! Fica por ai. Pede asilo político.